somatizando

Neste instante minha alma sangra.
Um vazio denso toma conta.
Estou na cicatriz do choro.

The End

Eu passo.
Estou passado.
O presente ficou para trás.

sentinela

Ontem escorreguei no cuidado
E deixei entornar um pouco
Do precioso líquido da paixão.

Havia-me sido entregue a sua guarda
Em um potinho de cristal.

Parece que derrapei no tato
Esbarrei no excesso de confiança
E – catapimba – bati de cara no egoísmo.

Não olhei por onde andei...
Doeu.

Líquido precioso, de um brilho ímpar.
Já no chão, me pareceu turvo, opaco.
Aspirei. Tentei aspirar tudo que caiu.

Tá lá ele no pote.
Será que volta o brilho?
Fico o dia inteiro em volta.
Como um cão de guarda.
De olho se há alguma luminescência.

Não depositei nenhuma lágrima.
Não adianta.
Mas existe uma atmosfera de muita tristeza.
Mas que também não interfere.

Vamos aguardar.
Só espero que aquele pote não seja uma caixa de pandora.
Onde o último dos males está guardado: o destruidor da esperança.

verão frio

Hoje minha tristeza é compartilhada com as paredes.
Frias, lisas, apenas me observam.
Sigo as linhas, tento convergências
O desamparo toma conta do vão.
Ando pelas quinas

A alma não acalma
A desolação bate no teto
O aconchego é branco

escritos

Escritos, escritos
Escritos por todos
os lados

Escritos escravos

Escrevinhados em papeizinhos, em guardanapos
Escritos guardados

Eu puxo e sai tudo

Escritos por todos
os lados

artemanha

a poesia é fato
o fato é artifício
o poema é artefato

msg de amor

Saudade doce ou saudade docê?
A saudade é tão grande
que a teclada gulosa
não deixa saber.

Sua Majestade Olivrão

HOJE É ANIVERSÁRIO DE DEZ ANOS D'OLIVRÃO,
NASCIDO EM 11/11/1998.
PARABÉNS, OLIVRÃO, E OBRIGADO POR ME DEIXAR DEFLORAR TUAS PÁGINAS,
CANETAR TUAS FOLHAS VIRGENS, POR TORNAR-TE ENSEBADO.
EM VOCÊ ME ESCONDO NAS ENTRELINHAS,
ME DESCUBRO EM PALAVRAS,
ME CALO NO PEITO AO ESCANCARAR O VERBO.
DE VOCÊ NUNCA MAIS ME LIVRO.
DESCULPE MEUS ERROS, MINHAS ANSIEDADES,
POR FAZER DE TI
MEU MATA-BORRÃO DE EXAGEROS,
MEU PÁRA-RAIOS DE IDÉIAS.
MEU ESPELHO DA VERVE.
MUITO OBRIGADO POR TODAS AQUELAS NOITES EM QUE CAÍMOS JUNTOS EM TENTAÇÃO.
QUE VOCÊ VIVA MUITOS E MUITOS VOLUMES.
PARABÉNS!

sapiência

Realmente,
o homem evoluiu
das águas. E vai para o brejo.

hai cai

A missa como submissão
me inspira versos
de subversão

Desde que inventaram a casquinha, todo mundo tira uma.

Eu sou o conjunto de meus trejeitos
com um desenho de gestos.
Sou um bando de pensamentos
num miolo de carne.

lua nova

Vampiro míope
assaltou por engano
um banco de leite.

Que infeliz empreitada!

Terminou exangue
com uma sangria desnatada.

vida quântica

Do pó viemos.
Somos feitos de matéria.
E a matéria é feita de átomos.

Aliás, podemos fazer uma analogia
da nossa vida
com o comportamento de um átomo.

Por exemplo,
quando nascemos estamos cheios de energia,
como se fôssemos o elétron mais distante do núcleo,
no último nível.

Mas à medida que o tempo vai passando
vamos perdendo energia,
caindo para níveis inferiores,
cada vez mais próximos do núcleo.

E cada vez mais
a degeneração de células acontecendo
e a energia declinando.

Os laboratórios clínicos
passam então a ser o núcleo,
e nós, cada vez mais, circunvizinhando-os.

Uma queda de energia brutal
e o núcleo passa a ser os hospitais.
Estamos no primeiro nível,
o de menor energia.

Mais uma involução
e o elétron kamikaze – fraco de energia
mergulha para a colisão com o núcleo.

Um último suspiro de luz é visto.

Estado nêutron, cemitério.
E ao pó voltamos.

fazem sentido outros cinco

Tem aquele que não quer enxergar
Tem o que faz ouvidos moucos
Tem um que não tem tato nenhum
Tem aquele que só dá desgosto
E tem o que não fede nem cheira

brainstorming

Tempestade vocálico-imaginária.

cubismo

Quando a coisa
se transfigura
muda de figura.

Spider-Woman

O Homem-Aranha passou o filme inteiro sem comer a namorada.
Toda hora tinha que sair pra salvar alguém.
Resultado: terminou o filme, ela estava com teia de aranha.

ecce homo

Se Pilatos tivesse um pouquinho menos de higiene,
ele teria mudado o rumo da história.

concepção

Árvore genealógica
Tronco de família
Sangue do meu sangue
Eu, eu mesmo e Irene.

A VIDA É UM OCO
É O QUE EU VI
NO ECO DA MINHA VIDA

Quem foi?

Foi Esperança Ribeiro,
Poesia de Oliveira
e Hélio Aroeira.

OLIVRÃO
É A EMINÊNCIA PARDA
DA MINHA POESIA

quartelada

Sargento, toma tenência.

arroubo

– QUE ROUBEM AS MINHAS LETRAS.
EU ESTOU A SERVIÇO DA HUMANIDADE.

haiku

sua bunda
tá de bum
tamanho

luta diária

sub-reptícia
terrena
esvoaçante

O FILOSOFETA

ERA UM FILOSOFETA.
IA ALÉM DA FILOSOFIA, IA NA CARNE.

A CARNE É FRACA
A CARNE É CLÁSSICA
A CARNE É GREGA

SOU TERRENO
VIVO NO TERRITÓRIO
A PENSAÇÃO É A SENSAÇÃO DO PENSAMENTO

O FILOSOFETA FILOSOFUNDA

DURA EXISTÊNCIA ESTA:
A CRIATURA É PERFEITA, O SER HUMANO FALHA.

CANSEI DE COZINHAR
ASSINADO O GALO

LUEI

Lei Seca

Como pode uma lei tão sueca
neste país tupiniquim?
Parei de brincar.

biruta

não é que eu viaje demais.
eu viajo ao sabor da onda.
navego sim com as velas sempre abertas.
ao menor vento, inflo.
se vem na minha direção, abordo.
se sopra no mesmo sentido, abarco.
se toca para o mesmo destino, açambarco.

O que mata girafa é torcicolo.

Quem vive no passado é verbo.

hai cais

Hai cai balão
Aqui na minha
Mão

Hai cai balão
Nas terras
Do japão

modus operandi

a hipocrisia me causa asco
o simulacro, hiperestesia
é hora de romper nos cascos
haja galope pra tanta afasia

Atrasado, não viu outra opção.
Estacionou o carro na vaga para deficientes físicos.
Foi o velho golpe do joão-sem-braço.

Com parcimônia ou sem cerimônia?

da palestina (releituras)

Verás que um filisteu não foge à luta.

***

Hay que endurecerce
pero sin perder la ternura
Hamas.

dos tempos modernos

A mexerica é a laranja
com embalagem fast food.

Tenho um calo
no falo.
Mas não falo,
calo.

Era uma criatura franzinza.

O solo de oslo é oco e dá eco.

hai cai

o osso
no fundo
do poço

viagem interior

Chegou trazendo beijos
e queijos.

A magia das palavras
está em trazer consigo
o inesperado.

de charadas e curingas

Eu sou humano,
eu não sou
perfeito.
Eu não sou
herói.
E nem nasci em
Gotham City.

hai cai(s)

o vento ventila
a crina azul
azucrina

***

belém belém
tá na hora da missa
meu bem

***

tinha receio
no recreio
creio

***

o panda vândalo
foi pego
escalando o sândalo

***

Hai cai chuva de poesia
Na telha de Bashô
Bashô a nega maluca
Acabô de baxá

Mel e Zezé

Clássicas
Erudição latinamente mineira
Conceito grego
Túnicas
Únicas

Torso grego
Vive em Tel Aviv
Pinta de espanhola.
Sabores de Mel.